Em 12 meses, modelos ‘populares’, como o Chevrolet Onix e o Volkswagen Gol, tiveram os preços reajustados em torno de 17%
Os preços dos carros novos dispararam no Brasil. Em 12 meses, 26 dos modelos mais vendidos tiveram as tabelas reajustadas em 17,12%, em média. A alta é bem maior que a inflação de 2020, que foi de 4,52%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Dos hatches, o Gol, da Volkswagen, por exemplo, ficou 19,5% (R$ 9.170) mais caro em um ano. O novo Chevrolet Onix, carro mais vendido do País, encareceu 22,94% (R$ 11.400). Para comparação, o IPCA do carro novo em 2020 foi de 4,03% e o do usado, de 2,8%.
O levantamento foi feito pela Kelley Blue Book (KBB), multinacional do setor de avaliação de veículos, em parceria com o Jornal do Carro. Comparamos os preços sugeridos pelas fabricantes em meados de fevereiro de 2020 com as tabelas do mesmo período de 2021. Os preços utilizados são os das versões de entrada, as mais simples, dos respectivos modelos.
Segundo as fabricantes de veículos, a alta resulta, portanto, da desvalorização do real e do aumento dos preços de matérias primas e outros insumos no mercado internacional. Da mesma forma, as montadoras também se queixam dos altos impostos e da burocracia no País.
No caso do Onix, a versão de entrada da nova geração custava a partir de R$ 49.690 em fevereiro de 2020. Agora, o mesmo modelo, com motor 1.0 e câmbio manual, tem tabela a partir de R$ 61.090.
Já o Volkswagen Gol 1.0, também com câmbio manual, cuja tabela começava em R$ 47.020 em fevereiro de 2020, atualmente está à venda por R$ 56.190. Até mesmo o Ford Ka, que deixou de ser produzido no Brasil, teve o preço reajustado acima da inflação – confira as altas dos 26 modelos na tabela abaixo.
Assim como os hatches, em todos os demais segmentos os veículos vendidos no Brasil ficaram (bem) mais caros. Dos sedãs, o Onix Plus, que está no topo do ranking de vendas, ficou 18,38% (R$ 10.330) mais caro em um ano.
Ao mesmo tempo, a versão sedã do Yaris que a Toyota produz em Sorocaba (SP), teve o preço reajustado em 17,8%. Com a alta de R$ 11.700, a tabela passou de R$ 68.490, em fevereiro de 2020, para R$ 80.190 atualmente.
A tabela do Volkswagen Virtus (com 14,58%) também subiu muito além da inflação. No caso da versão 1.6 MSI com câmbio manual, o aumento foi de R$ 9.975. Ou seja, o preço sugerido subiu de R$ 68.415 para R$ 78.390.
Entre os SUVs compactos, o líder de vendas é o T-Cross. E foi justamente o Volkswagen que mais encareceu em 12 meses. A alta da versão de entrada no período foi de 16,5%. Ou seja, a tabela saltou de R$ 84.990, há um ano, para R$ 99.070 agora. Dessa forma, está R$ 14.080 mais alta.
Já o Honda H-RV teve o preço da versão de entrada reajustado em 13% no mesmo período. Dessa maneira, agora o carro parte de R$ 105.100.
Nem mesmo os lançamentos mais recentes escaparam da agressiva inflação do automóvel. A nova geração do Chevrolet Tracker, por exemplo, estreou no Brasil em março de 2020 com tabela a partir de R$ 82.000. Contudo, após 12 meses o mesmo SUV compacto custa a partir de R$ 92.850. E assim, em menos de um ano, o modelo feito em São Caetano do Sul (SP) ficou 13,23% mais caro.
Com curva de vendas em alta, as picapes estão se transformando nas queridinhas do consumidor no mundo todo. E no Brasil não é diferente. Mas nem por isso elas foram poupadas das sucessivas altas nas tabelas.
A Fiat Strada é, disparado, o modelo mais vendido do segmento no País. A nova geração do modelo, que chegou às lojas há cerca de sete meses, teve o preço reajustado em 9,16% desde antão. A picapinha produzida em Betim (MG) foi lançada com tabela a partir de R$ 69.685. Mas após vários reajustes, que somam R$ 6.095, a tabela agora parte de R$ 63.590.
Nem mesmo a geração antiga, que foi mantida em linha, escapou de reajustes. Há um ano, a Strada tinha várias versões com preços a partir de R$ 59.990. Entretanto, agora há apenas a configuração Hard Working com cabine simples. O preço sugerido pela Fiat é de R$ 65.490. Ou seja, houve alta de 9,16%, ou R$ 12.490 em 12 meses.
Com reajustes ainda maiores, as picapes médias, como Chevrolet S10 e Toyota Hilux, estão entre os modelos com os preços mais salgados entre os carros vendidos no Brasil. Vale lembrar que as duas foram atualizadas em meados de 2020. Assim, receberam mudanças no visual, além de novas versões e mais equipamentos.
Mesmo assim, as altas nas tabelas impressionam. No caso da S10, que é feita em São José dos Campos (SP), o reajuste em 12 meses chega a 33,14%. Em valores absolutos, estamos falando de um acréscimo de R$ 37.550 para a versão de entrada, Advantage, com cabine dupla e motor 2.5 flexível. Assim, o preço sugerido para o modelo era de R$ 113.290 há um, e agora começa em R$ 150.840.
No caso da Hilux, que é feita pela Toyota na Argentina, a alta do preço da versão de entrada em 12 meses foi de 26,98%. Dessa forma, o aumento chega a R$ 34.000. A picape média mais vendida do mercado brasileiro tinha preço a partir de R$ 125.990 em fevereiro de 2020. Agora, a mesma versão, SR com cabine dupla e motor 2.7 flexível, parte de R$ 159.990.
Já faz alguns meses que as fabricantes de veículos tentam explicar os sucessivos aumentos de preços aplicados às tabelas dos modelos oferecidos no Brasil. Como justificar, por exemplo, a alta de 16,53% (mais de R$ 19 mil) no preço do Jeep Compass?
O SUV, campeão de vendas entre os médios, é produzido em Goiana (PE) e tinha preço sugerido a partir de R$ 116.990 há 12 meses. Agora, o modelo tem tabela inicial de R$ 136.285. E deve ficar ainda mais caro. Isso porque o Compass será reestilizado em breve, e essa atualização chegará ao mercado ainda neste ano.
Segundo a Anfavea, associação que representa as montadoras instaladas no Brasil, a desvalorização do real ante o dólar é uma das principais responsáveis pelo encarecimento dos veículos no País. Isso porque, após o início da pandemia, a cotação da moeda norte-americana chegou a patamares jamais vistos por aqui, a ponto de beirar os R$ 6, em maio de 2020. Assim, os preços de matérias-primas, como o aço, além de componentes eletrônicos e insumos importados, que são cotados em dólar, dispararam.
Mas não foi só isso. A pandemia também trouxe desafios na logística e afetou a produção de peças e insumos básicos, como borracha e plástico. Além disso, os custos de frete subiram. Ou seja, está mais caro produzir veículos no Brasil. Nesse sentido, o gastos extras atingiram sobretudo os modelos que ficam nos extremos das linhas de produtos. Ou seja, de baixo e de alto conteúdo tecnológico.
Para arrematar, há pressão do governo para aumentar impostos, de modo a recuperar a queda na arrecadação. Em São Paulo, por exemplo, o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) subiu em 2021. Segundo levantamento feito pela Anfavea, a carga tributária sobre o automóvel no Brasil chega a 44% do valor do veículo. Isso em modelos com motor acima de 2 litros, que pagam mais IPI.
“Isso está prejudicando apenas as montadoras? Não. Está prejudicando toda a cadeia”, diz o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes. Segundo ele, quem está pagando por isso é o consumidor. “Como cidadãos, pagamos uma carga tributária absurda para comprar um carro”, diz o executivo.
Em entrevista exclusiva ao Estradão, o presidente da Mercedes-Benz do Brasil, Karl Deppen, diz que, com a crise causada pela covid-19, problemas que o País já enfrentava, como a pressão de alta de custos, ficaram mais graves. Assim, segundo ele, é preciso fazer reformas urgentemente de modo que a garantir que a indústria, assim como outras áreas fundamentais para a economia, sejam mais competitivas.
“Estabilidade político-econômica é vital para os negócios de veículos comerciais, que dependem da confiança dos empresários e dos consumidores. E, consequentemente, contribuem de forma muito importante para o crescimento do Brasil”, diz Deppen.
A opinião é compartilhada pelo presidente da Volkswagen do Brasil, Pablo Di Si. Em live transmitida há cerca de um mês, ele disse que reduzir o imposto na cadeia automotiva é o principal caminho para o desenvolvimento da indústria.
Segundo o executivo, não é preciso haver benefícios fiscais concedidos pelo governo. Mas, de acordo com ele, a redução da carga tributária é fundamental. Di Si afirma que 54% do valor de um automóvel vendido no Brasil corresponde a impostos. Assim, diz ele, apenas essa redução seria capaz de gerar condições para que as montadoras permaneçam no Brasil e programem outros investimentos, como em carros elétricos.
Fonte: Frota em Foco – Diogo Oliveira