Desde o início da pandemia do coronavírus, no ano passado, os preços de veículos ao consumidor não param de subir no Brasil.
Os reajustes sucessivos chegaram a tal ponto que hoje um carro compacto zero-quilômetro pode chegar a custar mais de R$ 100 mil
A situação não tem sido diferente quando se trata de veículos usados e seminovos – dependendo do modelo, os valores praticados por concessionárias e lojas multimarcas chegam a ser maiores do que os cobrados pelo mesmo carro, porém novo. Isso se o veículo zero pretendido estiver disponível, já que muitos modelos tiveram ou ainda têm a produção paralisada por conta da falta de componentes – em especial, semicondutores. Também tem havido menor oferta de automóveis de segunda mão. Enquanto a covid-19 não for controlada, por meio da vacinação em massa dos brasileiros, a expectativa é de que seus efeitos negativos na economia persistam, mantendo a tendência de alta nos preços.
1 – Paralisação de fábricas por falta de semicondutores
A escassez mundial de microprocessadores, cuja produção é concentrada na Ásia, levou à interrupção na produção de veículos de variadas marcas no Brasil ao longo deste ano.
Carro mais vendido dos últimos seis anos, o Chevrolet Onix é um exemplo: deixou de ser fabricado em 5 de abril e a respectiva produção deverá ser retomada somente em 16 de agosto.
Por conta do problema, a disponibilidade de carros zero-quilômetro nas concessionárias foi comprometida, ficando insuficiente para atender a demanda. Esse desequilíbrio entre oferta e procura tradicionalmente “puxa” para cima os preços de determinado produto.
A falta de veículos novos, muitos dos quais hoje têm fila de espera, acaba inflacionando o mercado de usados e, especialmente, de seminovos. Já noticiamos que há modelos de segunda mão sendo vendidos por valores mais altos do que se fossem zerados.
2 – Baixo estoque de usados e seminovos
Segundo Matías Fernández Barrio, CEO da Karvi, plataforma online de compra e venda de carros no Brasil e na Argentina, os estoques de seminovos e usados em concessionárias e lojas independentes também estão baixos e isso é outro fator a pressionar para cima os respectivos preços.
De acordo com Barrio, o “giro” dos veículos de segunda mão, que é o tempo entre a compra e a sua respectiva revenda, era superior a dois meses há cerca de um ano. Hoje, caiu para aproximadamente 30 dias.
“É um sinal de que há demanda. Quem tem estoque, vende. Contudo, o problema é que está muito difícil repor o veículo comercializado para efetuar novo negócio, pois faltam carros”.
Por conta disso, afirma o executivo, concessionárias e lojistas independentes elevaram os preços para compensar a expressiva queda no volume de veículos comercializados – e, com isso, bancar os custos de operação e manter o negócio sustentável.
“A margem bruta na revenda hoje continua em torno de 10%, porém um veículo que há um ano era vendido por cerca de R$ 45 mil hoje sai por mais de R$ 60 mil ao consumidor”, pontua.
3 – Retomada gradual da economia
Conforme explicamos nos itens anteriores, durante os últimos meses a economia tem dado sinais de recuperação, com elevação no consumo e na demanda por variados produtos e serviços – e isso se aplica a automóveis.
Aí voltamos à tradicional regra da oferta e da procura: quando há demanda e falta oferta, a alta nos preços é uma consequência esperada.
“Dentre aqueles que mantiveram a renda durante a pandemia, há uma parcela que planeja a compra de um carro próprio, ou a troca do atual, a fim de evitar o transporte público”, opina o executivo da Karvi.
4 – Aumento do ICMS em SP
Dono da maior frota circulante do Brasil, em torno de 30 milhões de veículos, o governo paulista elevou no começo deste ano as alíquotas de ICMS tanto para carros zero-quilômetro quanto para usados.
Dessa forma, os preços praticados no Estado ficaram mais altos na comparação com outras unidades da Federação. Por conta da relevância do mercado de São Paulo, que também é responsável por boa parte da produção nacional de veículos, os preços médios, considerando todo o território do País, inevitavelmente subiram.
Em janeiro passado, Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, a associação nacional das montadoras, já alertava a respeito do impacto nacional do aumento na carga tributária no mercado paulista.
“São Paulo é responsável por mais de 40% da produção da indústria automotiva no País e a gente está considerando um volume de crescimento menor do mercado automotivo em 2021, por conta desse impacto do ICMS”, avaliou na época, em entrevista para UOL Carros.
5 – Pressão de insumos e logística
Além da escassez de semicondutores, que encareceram por conta disso, outros insumos e serviços essenciais para a produção de automóveis ficaram mais caros ao longo dos últimos dois anos – e elevaram o preço de automóveis ao consumidor.
Conforme apresentação da Anfavea para a imprensa realizada em março, de janeiro de 2020 a janeiro deste ano o valor do aço (foto acima) no Brasil teve elevação de 61%; resinas e elastômeros saltaram 68% de dezembro de 2019 a dezembro de 2020; o frete aéreo, por sua vez, teve alta de 105% entre janeiro do ano passado e o primeiro mês deste ano; e o frete marítimo apresentou acréscimo de 339% no mesmo período.
Isso sem contar o valor da eletricidade, que está subindo neste ano por conta da escassez de chuvas, que afeta a geração de energia hidrelétrica e faz com que se recorra a usinas térmicas, mais caras.
Fonte: UOL Notícias – por Alessandro Reis