O que as montadoras ganham com a oferta de carros por assinatura

Meses após o lançamento da nova frente de receitas, marcas e especialistas apontam quais são os resultados e perspectivas

Na era do streaming e dos serviços para acompanhar filmes e músicas de forma recorrente, os carros entram na onda e passam a ter serviço de assinatura. O novo modelo de negócio é aposta das montadoras para acelerar as transformações de mobilidade no Brasil. Com o movimento, as fabricantes buscam reconquistar, principalmente, motoristas que nos últimos anos abriram mão do carro próprio para usar aplicativos como o Uber.

Audi, Caoa, Fiat, Jeep, Nissan, Renault, Volkswagen e Toyota já se lançaram nesse mercado. O serviço é como a Netflix dos veículos: o cliente assina um plano mensal pelo período de um a três anos, a depender da marca, e pode usufruir do carro e todas as suas facilidades sem se preocupar com IPVA, seguro e manutenção.

Em novembro de 2020, a Volkswagen lançou o seu programa Sign & Drive como “parte da estratégia de digitalização e conectividade da marca para garantir o melhor serviço para o cliente VW”, afirma o diretor de vendas da marca, Ricardo Casagrande.

“Em um futuro próximo, a experiência será o principal fator de fidelização do consumidor”, diz o executivo da Volkswagen.

A gestão da frota é feita pela VW Financial Service, braço operações financeiras da empresa. A marca alemã visa atender a um novo cliente, que busca soluções diferenciadas das disponíveis até então, aponta a empresa. “Existe a demanda de uma parcela de motoristas que não querem usar os aplicativos de transporte e nem buscam a posse do carro, mas ainda prezam pela praticidade, conforto e pela disponibilidade de ter o veículo na garagem”, esclarece Casagrande.

MODELO DE ASSINATURA MIRA AS NOVAS GERAÇÕES

Um estudo da Deloitte aponta que 62% dos jovens das gerações Y e Z que utilizam serviço de compartilhamento de automóveis acham dispensável a compra de um carro no futuro, enquanto 55% dos brasileiros questionam a necessidade de ter o próprio veículo.

A VW ainda não divulga números, mas Casagrande garante que os resultados do novo modelo de negócio são positivos. “Estamos tendo muito sucesso. O volume de carros que oferecemos para durar um mês foi absorvido em 15 dias e regularmente os novos lotes estão sendo consumidos antes do tempo previsto”, aponta ele. E complementa:

“A pesquisa de satisfação sobre a experiência do usuário na assinatura e utilização do Sign & Drive mostra satisfação altíssima dos clientes.”

Toda a contratação pode ser feita de forma digital, desde a escolha do veículo até a assinatura do contrato, mas a empresa aponta também a rede de distribuição como um elo importante para o aluguel de veículos. “Envolver as concessionárias foi a nossa grande preocupação porque entendemos que alguns clientes ainda querem conhecer o carro”, conta o diretor de vendas.

A EXPERIÊNCIA DA TOYOTA

A Toyota também investiu no novo modelo de negócio. O Kinto Share permite alugar o veículo por algumas horas ou por meses. Os carros por assinatura “são parte da estratégia de transformação de empresa de manufatura para empresa de serviços de mobilidade”, segundo o diretor de mobilidade da marca, Roger Armellini.

Lançado em novembro de 2020, o serviço conquistou mais de 20 mil usuários em seis meses de operação no Brasil e atingiu as seis mil diárias locação no período. Os números superaram em 38% as projeções iniciais da Toyota. Na visão de Armellini, um dos motivos desse sucesso é que o carro por assinatura “chama a atenção dos clientes e cria uma curiosidade que ajuda a acelerar o mercado”, afirma ele.

“As pessoas têm propensão a aderir a esta proposta porque já são usuárias dos serviços por assinatura em outros segmentos. Assim, por diferentes motivos, os carros por assinatura são interessantes para esse público”, diz o diretor da Kinto.

A frente de negócios da Toyota também conta com o serviço de assinatura e gestão de frota para o mercado B2B, empresas contratam a Kinto no lugar de comprar e gerenciar frotas próprias.

Em 2020, a empresa fechou a carteira com 120 clientes corporativos e, segundo a companhia, este é um negócio que tende a ganhar tração. Uma das estratégias é a ampla oferta de veículos híbridos, cada vez mais buscados como uma solução sustentável, que atende à agenda ESG, de governança corporativa e sustentabilidade.

SE AS MONTADORAS OFERECEM ALUGUEL DE CARROS, COMO FICAM AS LOCADORAS?

Com a oferta de carros por assinatura, as montadoras correm o risco de disputar consumidores com seus principais clientes: as locadoras. Os executivos das fabricantes, no entanto, asseguram que o novo negócio não concorre ou pretende substituir as empresas tradicionais de locação.

Para o diretor geral de vendas da Volkswagen, Ricardo Casagrande, fabricantes de veículos e locadoras vivenciarão uma nova relação no mercado. “A indústria 4.0 traz o conceito de equilíbrio entre cooperação e competição”, afirma. “As locadoras são parceiras importantes das montadoras e oferecem um serviço diferente, com condições e experiência próprias. Mas, eventualmente, o produto pode fazer concorrência”, diz Casagrande.

Para o consultor Vitor Klizas, o carro por assinatura não deve impactar o mercado de locação no Brasil:

“As montadoras entram nessa solução de mobilidade de maneira complementar. Não seria benéfico para nenhum dos lados se fossem concorrentes diretas porque 45% das vendas totais de veículos do país são feitas de forma direta pelas montadoras (sem intermediação de concessionárias). Grande parcela desse volume vai justamente para as locadoras”, diz Klizas, da Jato Dynamics.

PANDEMIA IMPULSIONA NOVO MERCADO

Segundo os executivos, a pandemia acelerou a busca pelos carros por assinatura, vistos como uma alternativa para evitar o transporte público ou aplicativos de compartilhamento de veículos durante o período de distanciamento social. Outro fator relevante é o custo. Com o cenário econômico ruim no País, os carros por assinatura emergem como opção financeiramente mais viável.

O aluguel de longo prazo é uma tendência em diversos países como Holanda, Bélgica, Dinamarca e Suécia, onde há grande densidade de frota de veículos para cidades com pouco espaço. E se expande agora para regiões como o Brasil, onde há grande volume de pessoas e grande espaço demográfico, de acordo Klizas.

“O Brasil é um seguidor do conceito de mobilidade e as pessoas demandam alternativas para se deslocarem, principalmente por causa da pandemia”, afirma o executivo. “As montadoras aqui têm um papel importante porque trazem consigo a experiência de outros mercados mais maduros e as operações dos carros por assinatura no Brasil vão se beneficiar disso.”

Fonte: Natália Scarabotto, Automotive Business

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