Mercado de veículos em alta contrasta com varejo em baixa, IOF alto e mais importações

Ainda que mercado tenha chegado ao fim de maio acima daquilo que foi no ano passado, cresce a lista de fatores que podem enfraquecer vendas.

Quem olha os resultados de emplacamentos acumulados do ano até maio, com alta de 16,2% em relação a 2024, nem imagina que montadoras e concessionárias têm motivos de preocupação quanto ao mercado interno. Mas têm.

Na quinta-feira, 5, durante a divulgação do balanço de maio, a Anfavea, associação que representa as montadoras no país, elencou alguns pontos de atenção sobre o comportamento do mercado, apesar de os indicadores apontarem para cima.

O primeiro deles é o aumento do IOF, o Imposto sobre Operações Financeiras, medida que pode influenciar as vendas de veículos no país e a operação das empresas como um todo.

Em 2022, segundo a própria Anfavea, toda a cadeia automotiva recolhia, à época, cerca de R$ 100 milhões. Considerando que, de lá para cá, o número de empresas no país aumentou com a chegada de novos fornecedores, por exemplo, é possível deduzir que esse valor também cresceu.

IOF alto pode aumentar custo das fábricas

Ainda que o presidente da entidade, Igor Calvet, tenha afirmado que há tranquilidade em relação ao tema após o governo federal sinalizar que fará mudanças — após o clamor de vários setores, sobretudo o industrial —, há certo desconforto.

Isso porque a entidade calculou que um IOF mais alto refletirá no custo do inventário das fábricas, nas compras internacionais das montadoras, nas vendas diretas e, também, na operação dos fornecedores.

Outro fator que preocupa o setor é a inadimplência, que, segundo a Anfavea, apresenta tendência de alta tanto entre os clientes pessoa física quanto entre aqueles que são empresas — ou melhor, frotistas.

“Neste momento, o que mais tem nos chamado a atenção é a inadimplência. Algumas empresas têm relatado que ela cresceu, o que sinaliza que poderemos ter uma contração da demanda em virtude do crédito mais restrito”, disse Calvet.

Com a inadimplência maior, bancos e financiadoras restringem ainda mais o crédito aos consumidores, dado o risco de calote envolvido na operação, o chamado spread.

Inadimplência entre pessoas físicas é de 5%

Segundo dados do Serasa, a inadimplência no país está em torno de 29,5% da população adulta, o que representa cerca de 73,5 milhões de pessoas.

No setor automotivo, informou a Anfavea, a inadimplência gira em torno de 5% entre pessoas físicas e 3% entre clientes pessoa jurídica — aqueles que compram veículos por meio de um CNPJ.

A entidade também reportou queda nas vendas no varejo, cerca de 3% a menos na comparação com o resultado observado entre janeiro e maio do ano passado. A venda de veículos leves nas concessionárias teria caído 8% no período.

Preocupa também as vendas de caminhões pesados, com queda em função dos juros altos do financiamento. Os transportadores estão em estado de espera, segundo o vice-presidente da Anfavea, Marco Saltini, postergando a renovação de frota ainda que a safra de commodities tenha crescido.

Mas nada disso parece ser mais grave, para as montadoras, do que a participação dos veículos importados nas vendas totais realizadas no país até maio.

Importações já representam “uma fábrica média”

O volume vendido — 189,8 mil unidades importadas — representou cerca de 19% das vendas totais ocorridas entre janeiro e maio, quantidade considerada pela Anfavea equivalente à “produção mensal média de uma montadora local”.

“Se o mercado cresce, as importações crescem e a produção cresce, nós temos algo a comemorar. Mas, quando a produção cai, o mercado cresce e as importações crescem, alguma coisa está acontecendo”, comentou Calvet na quinta-feira.

O comentário não se refere às importações de veículos produzidos na Argentina, processo que gera contrapartidas às montadoras instaladas no Brasil, mas sim às importações de veículos da China, de onde vieram, entre janeiro e maio, 58 mil unidades — 36% a mais do que no mesmo período do ano passado.

“Não cravo um patamar saudável de participação [dos importados nas vendas]. As importações são importantes, complementam as vendas das montadoras instaladas aqui. O que não pode é comprometer a produção local”, disse o presidente da Anfavea.

Importadores devem produzir veículos no país

Apesar da pressão que a entidade exerce sobre o governo federal com o discurso, aparentemente na prática há pouco a se fazer para reduzir o apetite das importadoras. A retomada do imposto de importação em sua alíquota cheia, por exemplo, não vingou até o momento.

E segundo as últimas informações, montadoras como BYD e GWM iniciarão em breve as atividades produtivas em solo brasileiro, o que deverá inviabilizar – caso se concretizem as promessas – o discurso das montadoras acerca da produção local dessas empresas que, por ora, são importadoras.

Se no célebre poema “Pneumotórax”, de Manuel Bandeira, não restou ao personagem acometido por grave e terminal doença outra coisa senão “tocar um tango argentino”, às montadoras, neste caso das importações, não resta outra alternativa senão aquela que está sendo usada: cobrar. E esperar.

Fonte: Automotive Business

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