Nessa semana uma pessoa que trabalha comigo comentou que estava com problemas na bateria do celular. Com menos de meio dia de trabalho, ela zera e o deixa na mão. Fiquei surpreso, pois trata-se de um modelo novo da famosa marca da maçã, comprado há dois meses e na configuração mais top, ou seja, caríssimo. Ao que parece, é um defeito isolado do aparelho dele, que espera resolver em garantia.
Essa é uma situação que ninguém quer passar, já que dependemos muito dos nossos celulares. Deixar um aparelho em uma assistência técnica, mesmo que seja na garantia, pode significar dias sem ele, algo inimaginável nos dias atuais.
Uma das alternativas para isso é contratar um serviço de locação, em que se paga uma parcela mensal em troca de um aparelho moderno, com seguro e custo de manutenção inclusos, além de poder renovar por modelos mais novos de tempos em tempos.
Isso tem tudo a ver com o tema da coluna dessa semana. Tenho a percepção de que ainda chegará o dia que ninguém será dono de um carro, e sim apenas um usuário rotativo, que será servido por um dos vários serviços de mobilidade, entre eles o aluguel de veículos.
Vale a pena alugar?
Cada vez mais pessoas me perguntam o que acho sobre alugar um veículo. Alguns até se desculpam pela pergunta e dizem que entenderão se eu não quiser responder, já que teoricamente seria um serviço a menos para o meu negócio de procurar e avaliar carros usados.
Francamente não vejo como isso pode me prejudicar, ainda mais com tantas pessoas e necessidades diferentes. Levando em conta que até mesmo os carros de locadora entram no mercado de usados depois de pouco tempo de uso, fica claro que esse filão está longe de ser extinto. Pessoas ainda querem ser donas de carros.
Dito isso, a segunda parte da minha resposta é que a escolha entre comprar ou alugar um carro deve ser feita de maneira individual. Para quem roda pouco, por exemplo, não me parece racional pagar uma mensalidade cara para ter um carro parado na garagem a maior parte do tempo.
Mas esse nem é o ponto. Como disse anteriormente, minha percepção é que, cedo ou tarde, deixaremos de ser proprietários de carros. E uma das causas é a constante evolução que tornam os veículos cada vez mais complexos, tal qual os aparelhos celulares mais modernos.
Vejamos os preços dos carros novos. Entre os mais baratos estão Renault Kwid e Fiat Mobi, na faixa dos R$ 50 mil em suas versões mais simples. Para ter os indispensáveis ar-condicionado e direção assistida, o preço final chega na faixa dos R$ 60 mil. É muito dinheiro, o que pode desestimular uma parcela de novos motoristas, que tendem a enxergar esses veículos como inatingíveis em um curto prazo.
Por que carros estão tão caros?
Mesmo simples em equipamentos de conforto e comodidade, os carros estão cada vez mais complexos em pontos que nem sempre são fáceis de identificar, como segurança e eficiência energética. Hoje são tantas exigências de órgãos regulatórios para que automóveis sejam seguros e eficientes que o custo de produção para atender a essas exigências é cada vez mais alto.
Tanto que os fabricantes estão se afastando dos modelos de entrada. Recentemente, perdemos vários desses carros mais simples, que apesar de caros para o consumidor, davam pouco lucro para seus fabricantes. Para eles, é mais interessante fabricar veículos com alto valor agregado, mesmo que o volume de vendas seja menor.
O caso da Ford no Brasil é perfeito para ilustrar isso. Ela deixou de fabricar Ka, Fiesta e Ecosport para importar os caros Mustang, Bronco e Territory.
Se essa decisão da Ford se estender para os outros fabricantes, mesmo que não seja de maneira tão extrema como foi com a marca do oval azul, os carros ficarão ainda mais inatingíveis. Como a necessidade de mobilidade continuará existindo, a solução para muitos será o aluguel.
Não seremos donos de mais nada
Tente pensar que essa tendência já acontece em outros setores. No imobiliário, por exemplo, é cada vez mais comum alugar um imóvel ao invés de comprar. O sonho da casa própria sempre vai existir, mas com preços cada vez mais altos é inevitável que muitos optem pelo aluguel, principalmente se a ideia for morar em grandes centros urbanos.
O que dizer de barcos e aviões, que nunca foram ou serão acessíveis para compra, mas nem por isso deixam de ser utilizados por passageiros que “alugam” um espaço para poderem viajar.
Hoje não somos donos nem de músicas. Em vez de comprar álbuns físicos, pagamos mensalidade para usar serviços de streaming.
Vantagens em alugar um carro
As vantagens são basicamente as mesmas que citei no caso dos celulares e que se aplicam para carros também. Quem aluga um veículo se “livra” dos custos de manutenção, seguro, impostos e depreciação, além de ter outro automóvel à disposição quando o principal quebra e de poder trocar por outro mais novo de tempos em tempos.
Ao pagar mensalidades que cobrem esses custos, o usuário tem mais controle do orçamento e não tem surpresas que o dono de um carro pode ter com custos extras, além de não descapitalizar seus recursos na compra de um carro.
Impacto no mercado de usados
Quem é dono cuida. Quem não é tende a ser mais desleixado e menos preocupado com a conservação do carro. O impacto disso no mercado de usados é a quantidade gigantesca de veículos ruins, mesmo com pouco tempo de uso.
São em sua maioria carros com procedência de locadoras. Isso tende a piorar bastante com o passar dos anos, já que as locadoras têm sido as principais clientes dos fabricantes de veículos.
Fonte: Uol