O que esperar do setor de autopeças, que enfrentou diversos gargalos no período de pandemia? Danilo Fraga, diretor da Fraga Inteligência Automotiva, explica que esse mercado enfrentou problemas em cascata, “numa situação que afetou a indústria automotiva como um todo. Ninguém ficou imune”.
Entre as locadoras, há necessidade de se investir em manutenções preventivas regulares. E também pode ser o caso, na opinião do especialista, de as locadoras começarem a cogitar um repertório maior de fornecedores de peças, ampliando os parceiros nesse quesito. “Existem hoje hubs on-line que fazem unificação de itens e que podem ser um caminho para adquirir aquelas peças que nem sempre são encontradas nas prateleiras dos grandes fornecedores”.
Na pandemia, por força de contrato, as empresas do setor de autopeças se viram na obrigação de priorizar a fabricação de peças originais para o atendimento às montadoras. “Esses contratos são obrigações firmadas que, caso não sejam cumpridas, impõem multas pesadas aos fornecedores de peças”, esclarece Danilo.
Mesmo essa demanda, para ser entregue durante a pandemia, exigiu um grande esforço dos fabricantes. E o mercado de reposição, que representa 20% do total do setor de autopeças, também sofreu naturalmente com a crise. Segundo a análise de Danilo, a produção nacional de autopeças chegou fragilizada a 2020, ano em que a pandemia explodiu, devido a um longo processo de desindustrialização.
“A indústria nacional começa a perder força por volta de 2010, graças a uma enorme pressão tributária, baixo incentivo e real depreciado. O mercado de reposição, muito estratificado, sentiu o impacto. Foi se tornando cada vez menos atrativo produzir autopeças em baixa escala no Brasil”, afirma ele. Assim, quando houve a necessidade de recorrer à produção nacional para cobrir a falta de peças no balcão, nosso mercado não estava preparado para suprir essa demanda.
Além dos problemas estruturais que se arrastavam há décadas, houve uma espécie de “tempestade perfeita”: a China, grande fornecedora de peças, estava em crise; o dólar disparou, encarecendo as importações; e as commodities utilizadas na fabricação das pelas também viram os preços explodirem. A economia ficou estagnada, faltava matéria-prima e ninguém queria empatar o capital em expansão ou adequação da produção.
De qualquer forma, a crise da pandemia teve como reflexo retomar a relevância da produção nacional. “Mas para recuperar o terreno perdido, leva tempo. É preciso calibrar a indústria para que essa autopeça fabricada aqui chegue na ponta com a agilidade necessária. Outra preocupação imediata é alcançar um equilíbrio fiscal na operação”, adverte o especialista.
Se antes da pandemia tínhamos estoques altos e pouca demanda por autopeças, depois do lockdown esse estoque chegou a um ponto de equilíbrio e houve recomposição de preços.
Para os próximos anos, há aspectos que são indicativos de que o mercado de reposição possa ser fortalecido. As vendas de novos, por exemplo, deverão se manter num patamar conservador, o que favorece a reposição. Além disso, lembra Danilo, a idade média da frota aumentou na pandemia. Cuidar do carro usado tornou-se uma preocupação mais presente, uma vez que passou a compensar realizar reparos no veículo seminovo.
Fonte: ABLA