Assinatura de veículos tem cada vez mais força no mercado, mas especialistas apontam que benefícios dependem da realidade de cada cliente.
A assinatura de veículos é uma modalidade de locação que vem crescendo rapidamente no Brasil. Somente nesta semana, duas novidades chegaram ao mercado: a van Hiace, pela Toyota, e o Hyundai Ioniq Hybrid, trazido pelo Grupo Caoa. As opções não se limitam a automóveis. Scania e Volvo, por exemplo, já oferecem o serviço para o setor de caminhões.
Entre as vantagens, o assinante não precisa se preocupar com coisas chatas, como documentação, seguro e revisões. Tudo está embutido na mensalidade. Porém, diferentemente do financiamento, no fim do plano não haverá um patrimônio para ser usado na compra de outro bem. Mas, afinal, é melhor comprar ou assinar? A resposta é: depende.
“Não existe uma fórmula mágica. É preciso entender as próprias finanças. Se você é aquela pessoa que tem emprego fixo e pode entrar num financiamento, talvez a melhor opção seja, de fato, a compra. Entretanto, para quem tem renda variável e não precisa ou não quer ter a posse do veículo, o caminho mais sensato é a assinatura”, esclarece Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive.
Especialistas são unânimes em dizer que o financiamento é a pior opção na aquisição de veículos – principalmente em épocas de juros altos. Assim, o ideal é comprar à vista. Todavia, para entender se é melhor a aquisição ou a assinatura, é preciso olhar tanto para os detalhes de cada modalidade, quanto para os preços do automóvel novo. Há três ou quatro anos, por exemplo, um modelo de entrada custava por volta de R$ 40 mil. Hoje, gira em torno de R$ 70 mil. Versões topo de linha ou acréscimo de opcionais, inclusive, jogam os preços para perto dos R$ 100 mil.
Por essas e outras, a assinatura é “um nicho relativamente novo no aluguel de carros, mas que inegavelmente tem chamado a atenção de quem valoriza mais o uso que a posse”, acrescenta o conselheiro gestor da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA), Paulo Miguel Júnior. Sem contar que o cliente tem poder de escolha nessa modalidade, permitindo a experimentação de diversos modelos de carros sem a necessidade da aquisição. “Estamos diante de uma mudança de cultura que, rapidamente e cada vez mais, cai no gosto do brasileiro”, conclui.
Mas isso não é regra. “Afinal, ainda tem gente que curte carro e não abre mão da propriedade”, opina Garbossa. Neste caso, portanto, é necessário analisar todo o contexto. O ideal é pegar os custos de compra e despesas extras e dividir a soma pelo tempo em que pretende ficar com o veículo. Assim, tendo em mente o gasto mensal.
O carro próprio exige gastos com IPVA, licenciamento, manutenção e seguro. É preciso acrescentar também custos usuais, como combustível, estacionamento e pedágios, por exemplo. Sem contar a depreciação do veículo, que gira em torno de 15% a partir do momento em que cruza a porta da revenda – no caso de carros 0-km.
Já o consumidor que vai atrás de veículos por assinatura, anda de carro novo sem ter que enfrentar burocracias. Ou seja, nesses casos, nada de filas de espera em concessionárias e eliminam-se alguns dos custos supracitados – basta abastecer o veículo e quitar eventuais multas. Além disso, o carro contratado será sempre zero quilômetro e há um contrato com prazo de entrega pré-definido. Ao fim do contrato, é só devolver o carro ou renovar o acordo, pegando outro mais novo.
Mas, assim como todo contrato, a assinatura deve ser muito bem analisada. Afinal, há diferentes pacotes de serviços e prazos de contrato. Atente-se aos gastos extras, como multas por encerramento antecipado do serviço e mesmo limite de quilometragem mensal – se ultrapassar, paga. Sem contar que, mesmo praticando valores fixos, há empresas que reajustam as mensalidades anualmente.
Economistas apontam que, na dúvida entre as modalidades, o primeiro passo consiste em fazer a comparação entre comprar um carro (à vista ou com entrada) ou deixar esse dinheiro investido e optar pela assinatura. Do mesmo modo, no caso de compra a prazo, indica-se comparar os valores das parcelas com os custos mensais do período do contrato de assinatura.
Para Ricardo Balistiero, que é doutor e professor de Economia do Curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, “É preciso ponderar, uma vez que os custos envolvidos na aquisição de um automóvel podem ser muito elevados. Talvez girar esse dinheiro no mercado financeiro possa gerar bons frutos a médio e longo prazo”, enfatiza. “Carro só vai desvalorizar, então, é necessário entender a necessidade de adquirir o bem. Todos os custos (de assinatura ou compra) devem ser planilhados”.
Mesmo com a opção de assinatura ainda tem quem prefira o aluguel. Lembrando que, a princípio, a principal diferença entre as modalidades é, basicamente, o tempo de contrato.
Enquanto o aluguel beneficia as necessidades imediatas (uso por um curto espaço de tempo), a assinatura pode durar até 3 anos, dependendo da empresa. Outra diferença é que, no aluguel, basta formalizar o contrato e pegar o carro. Já na assinatura – geralmente feita pela internet – há necessidade de aguardar a entrega do veículo. Há casos de 6 meses de espera.
Após um período abalado por falta de componentes, dificuldade de crédito e preços nas alturas tanto de carros quanto de combustíveis, empresas vêm dando outras hipóteses de aquisição para a clientela. Assim, de acordo com a ABLA, a frota das empresas de locação destinada para carros por assinatura cresceu 16,4%.
Ao final de 2021, o volume locado nessa modalidade era de aproximadamente 91 mil automóveis, diante de mais de 106 mil ao final de setembro de 2022. Entretanto, cabe salientar que o levantamento inclui apenas os veículos de empresas de locação. Não contabiliza, portanto, a frota de montadoras que oferecem o serviço. De acordo com o presidente da ABLA, Marco Aurélio Nazaré, a tendência é que a participação do carro por assinatura “venha até a dobrar no médio prazo. Afinal, apesar de ser uma modalidade recente, veio para ficar”.
Garbossa, consultor da ADK Automotive, também acredita que essa tendência ganhe cada vez mais espaço. “As montadoras têm corrido atrás do prejuízo (causado pela crise dos semicondutores) e, para conseguir dar vazão (a produção), passaram a disponibilizar várias modalidades de aquisição, mas a escolha fica com cliente, que precisa pôr tudo na ponta da lápis. Para cada bolso há um peso”, argumenta quando questionado sobre qual o sistema mais vantajoso, compra ou assinatura.
Quem, por exemplo, optar pela compra, tem a vantagem de rodar com o carro à vontade bem como pode revendê-lo quando precisar – inclusive, repassando a dívida no caso de financiamento. Por outro lado, a assinatura não dá a garantia de propriedade, mas não exige busca de crédito, evita burocracias e, sobretudo, pode sair mais barata por embutir na parcela mensal custos com impostos, seguro e documentação, por exemplo. Ou seja, o mundo ideal para quem busca praticidade.
Em síntese, o ideal é analisar cada ponto. Procure o carro, analise preços e condições, leia os contratos e, sobretudo, entenda se há vontade em adquirir um veículo próprio ou apenas em alugar por longo período.
Fonte: Jornal do Carro