Associação dos fabricantes de veículo faz projeções com ressalvas

Após cinco meses seguidos de recuperação do mercado brasileiro de veículos, que em setembro teve o melhor mês do ano com números mais altos do que os registrados antes da pandemia de coronavírus atingir o país, a Anfavea apresentou novas e melhoradas projeções de vendas domésticas, produção e prevê até que as exportações sejam melhores do que as esperadas. Contudo, a associação dos fabricantes coloca uma série de ressalvas às novas estimativas, apontando que ainda há no horizonte dos próximos três meses incertezas que podem mudar os números para baixo ou para cima – a começar pelo próprio desenvolvimento da Covid-19 que segue sendo uma ameaça importante à saúde e economia.

Com o que se consegue ver agora, a direção da Anfavea recalibrou bastante suas projeções. A estimativa é que o mercado interno deverá consumir 1,92 milhão de veículos (incluindo automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus), o que representa queda de 31% sobre 2019, ainda bastante significativa, mas bem melhor do que a estimativa de retração de 40% feita em junho.

Graças ao ritmo mais acelerado do mercado interno, para a produção a previsão refeita também indica melhora de 10 pontos porcentuais, com 1,91 milhão de unidades montadas e recuo de 35% na comparação com o ano passado – em julho o cálculo de queda era de 45%.

Até para as exportações o cenário melhorou, apesar de os principais países compradores de veículos do Brasil passarem por severa retração econômica, principalmente a Argentina, o maior cliente externo. A Anfavea espera que suas associadas exportem o total de 284 mil unidades este ano, o que representa acentuada queda de 34% sobre 2019 – ainda assim melhor do que o tombo de 53% projetado em julho. Em valores, a entidade calcula que o faturamento das vendas externas deverá somar US$ 6,8 bilhões em 2020, valor 30% abaixo do apurado no ano passado – antes a estimativa era de contração de 50%.

INCERTEZAS PERSISTENTES

Moraes apontou que o mercado brasileiro ainda está sob influência de forças opostas, negativas e positivas, que são variáveis e ainda vão influenciar diretamente o resultado de 2020. Do lado positivo, existe poupança não utilizada, gastos adiados (que eventualmente poderá ser realizados daqui para frente), incentivo ao consumo até o fim do ano em datas como Dia da Crianças, Black Friday e Natal, redução de IOF mantida nos financiamentos, juros baixos, retomada de compras das locadoras (que no auge da pandemia venderam seus estoques) e o crescimento da preferência pelo transporte individual para evitar o contágio pela Covid-19. Ao apresentar as novas projeções da entidade na quarta-feira, 7, seis meses após o início da crise, Moraes admitiu que o cenário catastrófico imaginado naquele momento felizmente não se confirmou. Mas ele ponderou que, embora melhores, os números seguem muito ruins, as receitas do setor devem ser R$ 60 bilhões menores e a ociosidade da indústria ultrapassa os 3 milhões de veículos. “Não faz tanta diferença se vamos produzir 1,8 milhão ou 2 milhões, ou se a queda do mercado será de 30%, 29% ou 33%, a questão é que é uma retração muito grande e que não conseguimos recuperar rápido”, destaca.

No lado dos riscos, o desemprego já é recorde em 13,8% e continua a crescer, o auxílio emergencial está sendo reduzido pela metade e acaba em dezembro, o 13º dos aposentados já foi adiantado e não estará disponível agora, há aumento de custos industriais (que impacta os preços e inibe o consumo), falta de insumos e possível elevação da carga tributária. Além disso, a forte desvalorização cambial com o dólar acima de R$ 5,50 e o endividamento do Estado que pode chegar a 100% do PIB são fatores que têm grande probabilidade de atrapalhar a recuperação econômica.

“Redefinimos as projeções, mas elas ainda podem variar para cima ou para baixo dependendo de todos esses fatores. Nós não insistimos em manter os números anteriores, mas queríamos ter bases mais sólidas para fazer uma previsão. Mesmo assim, ainda temos dúvidas. Estamos otimistas, mas não tanto”, define o presidente da Anfavea.

Se para 2020, com menos de três meses para terminar, as incertezas ainda são persistentes, para 2021 a Anfavea evita arriscar qualquer projeção. Mas segue com a visão, baseada no exemplo do que aconteceu em crises anteriores, de que a melhor das hipóteses é de crescimento médio das vendas de veículos na casa dos 11% ao ano nos próximos anos, o que faria a indústria levar cinco anos, até 2025, para retomar os mesmos níveis de 2019, quando foram vendidos 2,8 milhões de veículos no Brasil e produzidos 2,94 milhões.

Moraes aponta que boa parte dos economistas estimam que o PIB deverá crescer de 2% a 3% em 2021, mas após contração estimada em 5% este ano, o que torna tímida a recuperação econômica esperada. “Se o governo conseguir conter seu endividamento e achar uma fórmula de transição suave para programa de auxílio emergencial, esperamos por crescimento moderado do mercado interno no ano que vem”, avalia Moraes. Mas para exportações não há muita esperança de melhora: “Os países compradores estão em situação muito ruim, a Argentina está com reservas zeradas e crescimento da pobreza, Chile e Peru estão retomando lentamente”, diz.

PROJEÇÕES MUITO DIFERENTES POR SEGMENTO

VENDAS INTERNAS

A Anfavea melhorou quase todas as suas projeções para 2020 em relação às divulgadas em junho e julho passados, mas com diferentes variações. Para o mercado doméstico de veículos leves (automóveis de passageiros e utilitários), a entidade estima o total de 1,83 milhão de emplacamentos, o que representará queda de 31% na comparação com 2019 – a estimativa anterior, feita em junho, apontava contração de 40%, portanto a previsão foi melhorada em nove pontos porcentuais.

Graças à expansão continuada do agronegócio, a projeção para o mercado de veículos pesados de carga foi a que mais foi melhorada, a estimativa de retração foi reduzida à metade da divulgada em junho, de 36%. Agora a Anfavea estima a venda de 83,5 mil caminhões, em recuo de 18% sobre 2019.

No segmento de ônibus a situação segue mais crítica, mas mesmo assim a Anfavea melhorou a previsão, de queda de 52% para 36% agora, com expectativa de venda de 13,5 mil chassis este ano.

Para as vendas domésticas de máquinas agrícolas, a Anfavea manteve agora sua previsão de julho, esperando crescimento de 3% este ano, para 40,5 mil unidades. Mas a projeção para máquinas de construção foi completamente invertida, de esperada retração de 24% para expansão de 20%, equivalente a 5,4 mil unidades vendidas.

EXPORTAÇÕES

A Anfavea estima que as exportações de veículos leves devem totalizar 270 mil unidades este ano, em contração de 34%. Embora os volumes continuem muito baixos em comparação com os melhores anos de vendas externas da indústria, houve melhora porcentual significativa das expectativas, que em julho apontavam para queda de 53%.

Para as exportações de veículos pesados (a Anfavea estranhamente não separa os números de caminhões e ônibus) a perspectiva é de embarcar o total de 14 mil unidades este ano, em queda de 32%, melhor do que a retração de 43% estimada em julho.

Exportação de máquinas agrícolas e de construção é o único segmento em que a Anfavea piorou sua projeção. Em julho, estimava queda de 29% e agora prevê 31%, com 8,9 mil unidades exportadas.

PRODUÇÃO

Para a Anfavea, com o incremento do mercado doméstico acima das expectativas, a produção de veículos leves deverá cair 35% este ano, com o total de 1,82 milhão de unidades montadas. São 10 pontos porcentuais de otimismo, tendo em vista que em julho a expectativa era que o desempenho das fábricas recuasse 45%.

Para veículos pesados (também aqui não apresentados de maneira separada) a expectativa da Anfavea é de produção de 95 mil unidades em 2020, ou 33% abaixo do volume produzido em 2019. Antes, a entidade estimava queda de 42%.

Com a reversão das expectativas para crescimento de 5% nas vendas domésticas máquinas agrícolas e de construção, mas tombo um pouco maior nas exportações, a Anfavea prevê retração de 4% na produção este ano, com 51 mil unidades fabricadas – é exatamente a metade da queda esperada em julho, de 8%.

Fonte: Automotive Business – Pedro Kutney

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