Carros por assinatura estão cada vez mais comuns e essa modalidade pode ser vantajosa, mas pagar pelo uso não é interessante para todos
Você já deve ter ouvido falar que a posse de um carro envolve diversos custos que, na hora da compra, muitas vezes não são levados em conta, como valores mensais fixos e muito menos se calcula a desvalorização do veículo, entre outras despesas com estacionamento e manutenção programada e imprevista.
Isso, porém, já não passa tão despercebido para algumas pessoas, que têm procurado cada vez mais os chamados carros por assinatura. Trata-se de locação, porém por um período maior.
A ideia é parecida com o aluguel de uma casa. Você faz um contrato geralmente de três anos pagando um valor por mês para usar o carro. A diferença é que, na casa, você paga água, luz e gás. E no carro por assinatura todas as despesas estão incluídas, exceto gasolina e pedágio.
Você fica livre de IPVA, manutenção, seguro e revisões. No fim do contrato, o modelo é devolvido e pode ser trocado por um zero-km, com reajuste.
Um levantamento realizado pela Similarweb, plataforma de inteligência de mercado, mostra crescimento no acesso aos serviços de aluguel online. De acordo com o estudo, as visitas a sites saltaram de 7,7 milhões, em abril e maio de 2020, para 12 milhões, no mesmo período de 2021, um avanço de 56,5%.
Outro sinal de que esse serviço está em alta é que até as fábricas de automóveis entraram no mercado, entre elas Fiat, Ford, Jeep, Mitsubishi, Toyota, VW e até a Audi, entre as marcas de segmento premium. A pesquisa revela uma mudança de comportamento do consumidor, que ainda pode crescer muito no Brasil.
Depende do perfil e da utilização do carro de cada cliente. A QUATRO RODAS teve acesso, com exclusividade, a um estudo da Rico Investimentos no qual houve uma análise dos preços cobrados pelas principais locadoras do país.
“O custo anual de uma assinatura atualmente está em torno de um terço do valor do mesmo carro zero-km. Em outras palavras, um contrato de três anos de aluguel será aproximadamente o preço de comprar o carro na concessionária”, diz o analista de investimentos da corretora Rico, Antônio Sanches.
Diante dessa afirmação, é possível concluir que não vale a pena. Porém, considerando que cerca de 1/6 do valor do carro é gasto por ano com a posse dele, é necessário levar isso em consideração, uma vez que esse custo de propriedade está coberto pela assinatura.
Além do custo da desvalorização. Em condições normais de mercado, bem diferente do que se vive agora, carros desvalorizam em média 11% por ano nos primeiros anos. Esse é um fator importante de levar em conta, já que, com a depreciação ao longo do tempo, você receberá de volta muito menos do que pagou na hora da revenda.
Para o bancário Rodrigo Freire, contratar um Jeep Compass com a empresa Flua!, o serviço de assinatura das marcas Fiat e Jeep, foi a melhor opção para as suas necessidades. “Eu precisava trocar de carro, pois minha esposa engravidou e nós tínhamos dois carros pequenos, um VW Golf TSI e um Hyundai HB20”, diz Freire.
Ele optou por vender os dois carros e assinar o Compass, porque, ao fazer todas as contas, a nova modalidade era mais vantajosa. “Eu tinha em julho de 2021 o valor à vista para comprar o SUV (cerca de R$ 160.000), porém, com todos os custos de manutenção e de posse, pagar os R$ 3.300 mensais foi mais vantajoso levando em consideração que o valor que pagaria no carro foi investido e está rendendo”, conta.
O plano que Freire escolheu permite uma rodagem de até 500 km por mês, o que segundo ele é mais que suficiente para o seu estilo de vida atual. Freire diz que se adaptou tanto ao serviço que pretende renovar o contrato ao fim da vigência.
No caso dele, que tinha o valor do carro à vista, o aluguel foi mais interessante. Mas se o cliente estiver interessado em um carro mais acessível e possuir apenas um valor de entrada para o financiamento, será que ainda vale a pena?
Para o arquiteto Ramon Silva Lira a resposta é sim. Ele contratou um Fiat Argo 1.0 Drive da empresa Movida e não se arrepende. “No fim de 2020, queria comprar um Argo que na época custava uns R$ 55.000, porém eu tinha apenas R$ 6.000 de entrada e o valor da mensalidade do financiamento era de R$ 2.100 mais IPVA, manutenção, emplacamento e seguro”, diz Lira.
“Na locadora encontrei o mesmo modelo por R$ 1.250 mensais e com tudo incluso e pra mim valeu mais a pena”, conclui. Lira apenas salienta que sempre haverá um limite de quilometragem e, no caso da Movida, há uma multa de 15% sobre todo o valor das mensalidades a pagar em caso de desistência e portanto é bom ter certeza de que o negócio é mesmo vantajoso.
Para trazer maior clareza para quais perfis o carro por assinatura é um bom negócio, o analista de investimentos Sanches considerou quatro cenários (veja tabela). O menor custo é o de assinar um carro por três anos e investir o valor do carro em uma carteira de renda fixa que pague em torno de 12% ao ano pelos próximos três anos, o que é bem factível no cenário atual, segundo o analista.
A pior opção fica com o financiamento, devido à alta taxa de juros, cerca de 3,16% ao mês. A conclusão é que alugar um carro custa menos que comprar esse mesmo modelo e revendê-lo após três anos.
A assinatura pode ser um bom negócio, mas não para todos. Existem diferentes perfis de pessoas. Para alguns motoristas, a posse do carro vai além dos cálculos. Eles querem ter um carro para chamar de seu.
Nem que seja só para olhar para ele na garagem. Para eles a assinatura não funciona. Há os que trocam de carro todo ano, um prazer que custa caro. Para esses, se não se importarem em apenas usar o carro de uma empresa, a assinatura vai bem.
Qual é o seu caso? Para ficar satisfeito com a escolha, é necessário refletir e fazer as contas.
Na tabela abaixo é possível comparar a diferença entre deixar o dinheiro rendendo e assinar um carro ou comprar um zero-km
Alugando um carro | Alugando sem investir | Comprando à vista | Financiando (juros de 3,16% ao mês) | |
Custo 1º ano | R$ 20.400 | R$ 20.400 | R$ 71.100* | R$ 48.538 |
Custo 2º ano | R$ 20.400 | R$ 20.400 | R$ 9.140 | R$ 46.578 |
Custo 3º ano | R$ 20.400 | R$ 20.400 | R$ 8.960 | R$ 46.398 |
Ganho no Período | R$ 24.295 | – | R$ 47.526*** | R$ 47.526*** |
Custo total | R$ 36.904 | R$ 61.200 | R$ 41.674 | R$ 93.990 |
Fonte Rico Investimentos
*Valor da compra do carro, mais os custos do primeiro ano. **Valor da revenda
Agrupando todas as contas, o resultado final é que alugar um carro por três anos custa menos do que comprar um carro e revendê-lo após esse mesmo período. A pior opção fica com o financiamento, devido à alta taxa de juros trabalhada atualmente no mercado.
Fonte: Quatro Rodas