
Saiba como cada fabricante utiliza seus aportes e quais devem anunciar novos investimentos para 2025.
O mercado brasileiro despontou como um dos mais atrativos para investimentos de marcas chinesas. Desde 2023, os aportes já oficializados totalizam R$ 27,4 bilhões — e este valor deve subir nos próximos meses com novos anúncios. O montante inclui a construção de fábricas de carros e motores, a implementação de centros de pesquisa, investimentos em tecnologia e outros acordos comerciais.
Seis marcas chinesas são responsáveis pela soma: BYD, Caoa Chery, GAC, GWM, Omoda Jaecoo e Saic. Outras fabricantes chinesas, como Geely, Foton e Leapmotor, ainda não anunciaram seus próximos passos, mas anteciparam investimentos para o Brasil ao longo de 2025. Com isso, o volume total dos investimentos em breve superará a casa dos R$ 30 bilhões.
Revelamos abaixo o que cada fabricante tem feito com seus aportes e o que está por vir.
BYD – R$ 5,5 bilhões
O aporte da BYD foi usado para a compra da fábrica que pertencia à Ford em Camaçari (BA), a adaptação do complexo para início da produção nacional da marca, previsto para acontecer no final deste mês, e a criação de um centro de desenvolvimento e pesquisa de novas tecnologias.
A fábrica de Camaçari ficará responsável pela produção dos modelos Dolphin Mini, Dolphin, Yuan Pro e Song Pro. Os veículos serão feitos nos arranjos CKD e SKD, em que kits pré-montados são importados da China para que os veículos sejam finalizados na Bahia.
A marca também terá um centro de desenvolvimento na região, cujo principal objetivo é viabilizar o motor híbrido flex. Nos cinco primeiros meses de 2025, a BYD emplacou 39 mil carros, sendo a marca chinesa que mais vende no país.
Ainda existe a expectativa de que a marca aumente em R$ 1 bilhão os investimentos no Brasil. A informação foi revelada pelo senador Jacques Wagner (PT-BA), mas ainda não foi confirmada pela BYD.
Caoa Chery – R$ 3 bilhões
Em 2023, a Caoa Chery revelou o plano de investir R$ 3 bilhões para ampliar e modernizar sua fábrica em Anápolis (GO). A aplicação se confirmou no final do ano passado, com a expansão do complexo em 36 mil m² e a aquisição de robôs mais modernos para sua linha de montagem.
O objetivo é atingir capacidade para produzir 160 mil veículos em um ano. Até o momento, foram vendidos 23,5 mil carros em 2025. Também existe a chance de aumentar a capacidade produtiva dos carros da Chery, tendo em vista que a Hyundai pode ter encerrado a parceria com a montadora brasileira.
GAC Motor – R$ 7,4 bilhões
A novata GAC Motor iniciou os trabalhos no Brasil este ano e revelou que irá investir R$ 7,4 bilhões para produzir três carros localmente. O anúncio foi feito ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em maio.
Apesar do plano de ter carros nacionais, a GAC não pretende abrir uma fábrica. Autoesporte ouviu que a intenção é buscar um parceiro local, como a HPE Automotores em Catalão (GO). Os modelos mais cotados são Aion V, GS 4 e Aion Y.
Além da produção local, a GAC pretende abrir um centro de pesquisa e desenvolvimento no Brasil, provavelmente na região Nordeste, visando incentivos.
GWM – R$ 10 bilhões
Em maio último, a GWM anunciou um novo aporte de R$ 6 bilhões no Brasil. Somado ao investimento anterior, o montante já totaliza R$ 10 bilhões. Uma parte significativa foi usada na aquisição e adaptação da fábrica de Iracemápolis (SP), adquirida da Mercedes-Benz.
Assim como a BYD, a GWM também terá um centro de desenvolvimento e pesquisa no Brasil. A estratégia da marca inclui um motor híbrido flex, que será adotado na linha Haval a partir do ano que vem.
Em 2026, a GWM pretende ter quatro modelos nacionais: Haval H4, Haval H6, Haval H9 e a picape Poer. No acumulado deste ano, a marca chinesa emplacou 12,2 mil unidades.
Omoda Jaecoo – R$ 200 milhões
Outra estreante deste ano é a Omoda Jaecoo, marca do grupo Chery que chegou ao Brasil sem relação com a Caoa Montadora. Por enquanto, foram anunciados R$ 200 milhões em investimentos para o início das operações, mas já se fala sobre carros nacionais para o futuro.
Dois cenários estão à mesa para que isso se concretize. A Omoda Jaecoo pode fechar parceria com uma empresa local, como a Comexport em Horizonte (CE). A outra opção é construir uma fábrica em parte do terreno que recebeu da Caoa Chery em Jacareí (SP). Os executivos ainda não bateram o martelo e, até lá, a importação continua.
Saic – R$ 300 milhões
Somando todas suas joint-ventures, como GM e Volkswagen, a Saic é a fabricante que mais vende carros na China. Por enquanto, foram anunciados R$ 300 milhões em investimentos na fábrica de Pouso Alegre (MG) para a produção de motores de veículos pesados. Posteriormente, o complexo terá a capacidade de produzir componentes para automóveis de passeio.
Paralelamente, a Saic testa carros híbridos e elétricos da MG no Brasil. A operação deveria ter se iniciado oficialmente em 2025, mas Autoesporte apurou que a marca encontrou dificuldades que postergaram o seu lançamento oficial.
Nossa reportagem chegou a ouvir sobre um “cenário de lobby desfavorável”, em menção às recentes movimentações da Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que tenta acelerar a retomada dos impostos de importação.
Quais outras montadoras chinesas ainda vai anunciar investimentos?
Geely
A Geely chegou ao Brasil em parceria com a Renault em um acordo até então inédito. A marca francesa vai produzir veículos híbridos e elétricos para a chinesa em sua fábrica de São José dos Pinhais (PR), e a venda também ficará a cargo da Renault. Os pontos de venda terão separação física.
A contrapartida da Geely é se tornar acionista minoritária da Renault do Brasil. A aplicação, que não teve o valor revelado, vai conceder “acesso à infraestrutura de produção local, vendas e serviços”.
O objetivo da Geely é promover um crescimento exponencial na América Latina nos próximos anos. A meta é crescer o volume de vendas na região na ordem de 60% em 2025. Apesar de ser uma das maiores fabricantes da China, a empresa possui participação de mercado tímida na região. Vale lembrar que, por mais que a Geely seja proprietária da Volvo e da Zeekr, sua operação não terá relação com essas duas.
Foton
Conhecida pelos veículos comerciais e caminhões, a Foton entrou no segmento das picapes médias com o lançamento de seu primeiro modelo no Brasil, a Tunland. Conforme apurado por Autoesporte, a marca chinesa estuda abrir uma fábrica no país até 2028.
De acordo com Fabio Pontes, gerente de operações da Foton no Brasil, a produção nacional deve começar com o envolvimento de uma empresa parceira. Em seguida, a ideia é inaugurar uma unidade fabril. Os investimentos para essas ações ainda não foram anunciados.
Portanto, a Foton é outra marca chinesa para ficar de olho nos próximos meses. Enquanto isso, as vendas de veículos comerciais leves, pesados e da picape Tunland continuam.
Leapmotor
Em março último, Autoesporte trouxe a informação de que a Stellantis estudava a produção dos carros da Leapmotor no Brasil. Duas fábricas estão no páreo para receber a linha de montagem dos modelos elétricos chineses: Porto Real (RJ) e Goiana (PE). Quando o assunto for decidido, um aporte deverá ser anunciado.
Três fatores pesam a favor da fábrica pernambucana. Primeiro, a planta tem instalações mais modernas e tecnológicas, com maquinário de última geração. E outra característica que teria agradado os chineses são os incentivos concedidos à Região Nordeste.
Existe também uma vantagem logística, considerando que a Leapmotor teria o Porto de Suape à disposição para importar e exportar seus carros. A intenção, conforme apuramos, é transformar o Brasil em um hub para atender toda a América Latina.
Fonte: Auto Esporte