Carsharing cresce no Brasil, mas baixa produção freia setor

A transformação da mobilidade urbana envolve uma série de soluções inovadoras que estão melhorando o trânsito das pessoas nas cidades. Enquanto plataformas de corrida com motoristas, como o Uber, e modais de micromobilidade protagonizam a maioria das discussões sobre o tema, um outro modelo de negócio vem crescendo no Brasil e no mundo: o carsharing, ou compartilhamento de veículos. 

A quantidade de carros disponíveis para este fim ainda é ínfima se comparada ao modelo de aluguel tradicional. Um estudo estimava que, em 2018, a frota global de carsharing era de 332 mil veículos. Para efeito de comparação, a fusão entre as locadoras Localiza e Unidas formarão uma frota de 470 mil carros apenas no Brasil.  

Ainda assim, após uma queda momentânea no início na pandemia, a tendência é de crescimento acelerado. A expectativa é de que, em 2023, 227 milhões de pessoas sejam adeptas do modelo de carsharing e existam 1,2 milhões de carros disponíveis no mercado. Segundo a consultoria BCG, o mercado global vai gerar €4,7 bilhões em receita em 2021. 

O movimento está ligado ao fato de que as novas gerações estão comprando menos carros, mas continuam viajando e se movimentando dentro das cidades. Entre as razões pelas quais os millennials não querem um veículo próprio estão a preocupação ecológica, os problemas de manutenção e, claro, a maior disponibilidade de opções viáveis de mobilidade. O carsharing é uma delas e contorna as dores de cabeça que a posse do carro traz ao cliente. 

Modelos de carsharing

Há três tipos de modelos de negócio que constituem o mercado de carsharing, como mostra este estudo da Deloitte. São eles: 

Stationary (fixo):

Há um local pré-determinado em que o cliente deve estacionar o carro após o uso. Nesse sentido, este modelo é mais utilizado para viagens de ida e volta e acaba restringindo um pouco da flexibilidade ao consumidor e requer parcerias com estacionamentos públicos, por exemplo. Ao mesmo tempo, facilita a logística da operação. 

Free float (livre circulação):

Permite deixar o veículo estacionado em qualquer lugar, desde que dentro da área de operação do serviço. Por isso, dá ao cliente a flexibilidade de fazer uma corrida só de ida caso ele tenha uma carona na volta, por exemplo. Quando a frota é muito grande, porém, requer parcerias com o poder público para garantir vagas na rua. Em algumas cidades da Europa, já existem locais reservados para o estacionamento de veículos de carsharing. O plano diretor da cidade de São Paulo prevê parcerias deste tipo

Peer-to-peer (P2P):

Plataformas digitais conectam donos de veículos ociosos com pessoas dispostas a alugar por período determinado. Neste modelo, o ativo não pertence à empresa; ela fornece apenas a tecnologia, funciona como um marketplace e arrecada uma parcela de cada transação. 

Tendência global

A China é o principal país do mundo quando se trata de volume de veículos no carsharing. A startup EVCard, lançada em 2015, conta com a maior frota do planeta: são 60 mil veículos, todos elétricos. Na Europa, o maior player é a alemã Share Now, com 14 mil carros disponíveis. Nos EUA, a Zip Car lidera o mercado, com 12 mil veículos. 

A startup norte-americana, aliás, é responsável pela maior aquisição deste setor até então. Em 2013, a Zip Car foi comprada pela locadora Avis por US$ 500 milhões. Um negócio deste porte em um momento ainda incipiente para o mercado de carsharing já apontava para a tendência que segue crescendo de forma acelerada. 

O modelo está tão em alta que grandes montadoras, que já estão pivotando o negócio para oferecer carros por assinatura, reconheceram que o futuro está nos serviços de carsharing. “Mesmo que nem todos tenham um carro no futuro, o Moia pode ajudar a tornar todos clientes de nossa empresa, de uma forma ou de outra”, disse o então CEO da Volkswagen no lançamento da solução de mobilidade urbana. Marcas como BMW e Mercedes-Benz seguem a mesma tendência. 

Carsharing no Brasil

No Brasil, quem lidera o setor de carsharing é a startup paulistana Turbi. A empresa fundada em 2015 trabalha com o modelo “Stationary”, está presente em 800 pontos da Grande São Paulo, conta com frota de 1700 carros e realiza, em média, 800 viagens diárias. Outros players do mercado são: a Beep Beep, com foco em carros elétricos; a Velo-City, que atua no Rio de Janeiro e está testando o modelo de “Free Float” com apenas quatro veículos; e a moObie, que aposta no formato P2P. Além disso, o Itaú está entrando no jogo, com uma plataforma de compartilhamento de veículos elétricos que deve entrar em operação no segundo semestre. 

Para Diego Lira, CEO e fundador da Turbi, algumas mudanças de comportamento causadas pela pandemia estão impulsionando o mercado de carsharing. “O crescimento do home-office dispensa o traslado mais comum, que é aquele entre casa e trabalho. Para esse cliente que precisa do carro ‘de vez em quando’, a Turbi aparece como solução pela praticidade e capilaridade”, diz, em entrevista à The Shift. 

Na mesma linha, Daniel Bittencourt, fundador da Velo-City, diz que, em 2020, o carsharing se tornou uma opção viável para muita gente. “Quem optou por vender o carro durante a pandemia passou a olhar para alternativas que antes sequer considerava”, revela à The Shift. “O aumento do interesse por questões de sustentabilidade também traz mais atenção a este modelo”. 

Ambos os empreendedores destacam o caráter “low-touch” das soluções digitais como diferencial para as empresas tradicionais de aluguel de carros. Afinal, não há contato humano na jornada; todo o processo de locação é feito via aplicativo. A economia de baixo contato é uma das principais tendências aceleradas pela Covid-19. 

Diego Lira diz que o “carsharing complementa as demais opções de mobilidade”. Segundo o CEO da Turbi, há uma lacuna entre plataformas como Uber e o aluguel tradicional que está sendo preenchido por este tipo de solução. “As pessoas não deixaram de gostar de dirigir”, complementa Daniel Bittencourt.  “Elas não gostam dos problemas de manutenção, de fazer revisão e de pagar por um ativo que está parado”. 

O otimismo dos empreendedores, no entanto, não é sinônimo de que qualquer player deste mercado terá crescimento garantido. Já houve, no Brasil, alguns projetos que deram errado. São os casos da Fleety e Pegcar, startups de carsharing P2P, que encerraram operações respectivamente em 2017 e 2018. 

Desafio para a indústria automotiva

Se por um lado os diferentes formatos de aluguel de veículos estão em ascensão – inclusive com carros esgotados no final do ano passado -,  de outro a indústria automotiva enfrenta dificuldades de produção no Brasil. A Ford, por exemplo, anunciou o encerramento das fábricas no país. “Um fornecedor a menos”, comenta Diego Lira. 

A notícia surge poucos dias após um relatório constatar que a produção de veículos no país está no menor nível dos últimos 17 anos, com queda de 31,6% em relação a 2019. Em relação ao estoque de carros no mercado, é a quantidade mais baixa da história, suficiente para apenas 12 dias de venda. Este cenário interrompe o crescimento acelerado das empresas de carsharing, que precisam de veículos novos para ganhar escala. Tanto a Turbi quanto a Velo-City revelaram que a previsão era de obter mais carros, mas o momento é de aguardar o restabelecimento da indústria.

Fonte: The Shift João Ortega

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