Carro por assinatura é uma tendência irreversível

Existe uma estimativa do segmento de aluguel de carros que aponta: apenas 3% das pessoas habilitadas do Brasil já locaram um automóvel. Em entrevista para a Revista SINDLOC-MG, o empresário Luis Fernando Porto, CEO da Unidas, revelou que mais de 50 milhões de brasileiros possuem cartão de crédito, que é um quesito fundamental para o aluguel, mas apenas 11 milhões utilizaram o serviço. 35 milhões de brasileiros possuem automóveis, mas o número de carros por assinatura não passa dos 6 mil. Para ele e muitos outros empresários, o Brasil é uma grande oportunidade para a substituição da posse pela assinatura.

Os grandes players vislumbram isso há algum tempo. Parte do crescimento de empresas como Localiza e Unidas ao longo deste ano, apesar da pandemia, vem desse nicho de mercado. Enquanto a Localiza registrou lucro líquido de R$ 325,5 milhões, alta de 59% ante o mesmo período de 2019, a Unidas cresceu R$ 124,2 milhões, 44,4% a mais do que ano passado.

Engana-se quem pensa que é um modelo de negócio exclusivo dos grandes players. Hoje, empresas como a UseCar Brasil e a GoDrive são exemplos de sucesso entre as grandes, médias e pequenas locadoras do país. “Trata-se de um ganha-ganha. Os clientes passam a ter um carro zero todo o tempo na garagem, sem burocracia, de uma maneira cômoda e prática. E as locadoras ganham com o serviço”, afirma Roberto Ferolla, Diretor Comercial da UseCar.

“Acreditamos que o brasileiro é apaixonado por carro, mas na verdade o que ele é mesmo é apaixonado por mobilidade. E, como a matemática comprova que o aluguel por assinatura é mais vantajoso do que a posse, é natural que cada vez mais o serviço se expanda”, afirma André Lisboa, Head Comercial da GoDrive.

A conta é simples: se uma pessoa optar por ter sempre um carro novo na garagem, trocando de veículo de 24 em 24 meses, é mais inteligente e econômico ter um automóvel por assinatura que já envolve todos os custos (IPVA, licenciamento, manutenção, seguro, depreciação, juros em caso de financiamento). “Locação é apenas a mensalidade e combustível”, esclarece.

André faz uma analogia. Para ele, para compreender esse modelo, basta lembrar que antigamente se tinha CDs e fitas VHS. Ou seja, você precisava possuir esses dispositivos. Hoje, em vez deles, o que se tem é Spotify e Netflix. “Uma coisa sabemos: as gerações Y (21 a 34 anos) e Z (15 a 20 anos) estão bem pouco interessadas em adquirir um veículo próprio”, explica. De fato, uma pesquisa realizada pela Deloitte apontou que 56% dos jovens brasileiros, das gerações Y e Z, consideram dispensável possui um automóvel.

Para Leonardo Soares, Diretor Executivo do SINDLOC-MG, é importante perceber que essas gerações, mas também a geração X (de 35 a 49 anos), é quem está chegando nas administrações das locadoras de automóveis. “As empresas do setor, cada vez mais, são lideradas por empresários mais jovens, que compreendem melhor essa demanda pelo uso. Trata-se de uma mudança comportamental generalizada”, aponta.

“NÃO TEM NEM O QUE PENSAR”

Quando Rinaldo de Souza Ribeiro, empresário do setor de imóveis, é perguntado sobre o assunto, ele é direto: “não tem nem o que pensar”. Rinaldo, que há um ano possui um carro por assinatura pela GoDrive, afirma que foi a melhor coisa que fez, do ponto de vista financeiro, nos últimos anos. “Eu não tenho que me descapitalizar. Não gasto nada com manutenção ou documentação e ainda pego o dinheiro que gastaria no veículo e invisto. Atualmente não vejo razão nenhuma para pegar 60 mil reais e colocar em um automóvel”, explica.

Rinaldo também acredita que a mudança comportamental está cada vez mais próxima. “A posse ainda é muito frequente aqui no Brasil porque nós gostamos de personalizar os nossos carros, colocar, por exemplo, uma roda estilosa. Mas, assim como em países como os Estados Unidos, aos poucos, vamos aprendendo a fazer melhor nossas contas. Quando isso acontecer, vamos mudar o modo de ver as coisas”, afirma.

Por Leandro Lopes, da Revista SINDLOC-MG.